quarta-feira, setembro 19, 2007

Capítulo 18 - Novo nascimento

Débora Borges

Quando era ainda bem pequena, eu olhava para o céu e perguntava por que eu tinha que ter nascido ali, naquele lugar, e levar aquela vida, enquanto meus colegas de escola pareciam ter vida bem melhor do que a minha. Aliás, como eu bem sabia, minha vinda a este mundo nem havia sido planejada.

Minha mãe perdeu o pai em um acidente quando tinha apenas seis anos de idade. Minha avó não podia sustentar os seis filhos sozinha e acabou dando alguns para famílias conhecidas e deixando outros sob os cuidados de um orfanato em Florianópolis. Foi o caso da minha mãe, que, de repente, viu sua infância mudar drasticamente. Num dia, ela corria livre, brincando com os irmãos pelos pastos e plantações da pacata colônia alemã de São Pedro de Alcântara, com seus pouco mais de três mil habitantes e distante 31 km da Capital. No outro, estava confinada a um orfanato católico dirigido por freiras, cheio de regras e horários rígidos. A vida dela se transformou num eterno sofrimento de dias que duravam tempo demais. A dor, a saudade e a carência afetiva pareciam não ter fim.

São Pedro de Alcântara foi a primeira colônia alemã de Santa Catarina

Minha avó nunca deixou que ela fosse adotada, pois tinha esperança de que um dia poderia reunir a família novamente. Mas esse dia nunca chegou. Minha mãe tinha quinze anos quando a mãe dela tornou a se casar. Então ela pôde sair do orfanato, mas não voltou para casa. O padrasto, também viúvo, tinha quatro filhos e não queria mais bocas para alimentar. A solução para minha mãe foi trabalhar na residência de outras famílias. Por isso, por alguns anos ela morou em várias casas, sem nunca encontrar seu lar.

Quando ela conheceu meu pai, já tinha vinte e dois anos e morava com um de seus irmãos, mais velho que ela e casado. Naquele dia, meu pai casualmente pegou o mesmo ônibus que ela para visitar a namorada. Mas, quando viu aquela linda loira de olhos verde-claros, não resistiu. Ele não poderia deixá-la desaparecer sem saber quem era aquela moça de quem ele não conseguia desviar o olhar.

Ele desembarcou do ônibus logo atrás dela e descobriu que ela iria à missa. Começaram a conversar e ambos acabaram desistindo de seus respectivos compromissos.

Os dois namoraram pouco tempo e logo casaram. Meu pai era recém-formado em Geografia e trabalhava como bolsista no Museu de Antropologia da Universidade Federal de Santa Catarina. O salário dele, aliás, meio salário mínimo, apenas ajudava a custear os estudos. Mas, de repente, a notícia da gravidez veio como uma bomba. Agora o mísero salário tinha que milagrosamente sustentar uma família. Com o tempo, a situação financeira obrigou meu pai a desistir do mestrado que estava iniciando e enterrar seus sonhos. Acabou deixando o trabalho no museu e foi lecionar Geografia em escolas estaduais em busca de uma renda maior.

No primeiro ano de casados, eles moraram com meus avôs paternos. Era uma casa de madeira sem pintura, com as tábuas enegrecidas pelo tempo e algumas até apodrecidas, se desfazendo. Eles tinham que colocar alguma coisa para remendar os buracos a fim de não deixar o vento entrar. Ali, em quatro cômodos, moravam doze pessoas: minha mãe, meu pai, os sete irmãos dele, mais meus avôs e eu, recém-nascida.

Não era um ambiente muito agradável para um bebê. As brigas e a gritaria eram frequentes. Finalmente, quando eu tinha quase um ano, meu pai construiu nos fundos do terreno uma casinha de madeira com dois cômodos. Até que ela era bonitinha, pintada de amarelo e com as portas e janelas brancas. Mas era muito simples, não tinha nem mesmo forro ou banheiro. Quando ventava muito, lembro-me de que ficávamos com medo e corríamos para baixo da mesa a fim de nos proteger, caso o vento arrancasse uma telha e ela caísse dentro da casa.

O “banheiro” era um caso à parte. Era comum naquela época os mais pobres não terem banheiro. Todos tinham as terríveis e nojentas patentes (latrinas). Eram um cubículo de madeira com uma tábua que servia de assento, com um buraco no meio. E, claro, não havia descarga. O cheiro era insuportável, por isso elas tinham que ficar bem longe da casa. Nossas patentes – da minha casa e dos meus avôs – ficavam praticamente dentro do mangue. Tinha até um caminho feito com pedras para chegar até elas cheio de caranguejos por perto.

A casa dos meus avôs ficava bem em frente à praia. Havia só uma ruazinha de terra que passava em frente e a separava da areia branca. Logo depois da rua estava o rancho das canoas do meu avô, ao lado dos ranchos dos vizinhos, que também viviam da pesca. Eram como pequenos galpões de madeira com telhado baixo, feitos para abrigar as canoas e guardar utensílios de pesca, como redes, tarrafas, remos, etc. A uns três metros do rancho ficava o mar, com suas ondas sempre suaves e calmas. Ali da praia se avista a ilha de Florianópolis, uns sete quilômetros à frente, em linha reta, indo pelo mar.

A paisagem é muito bonita. Ao longe, se veem as cadeias de montanhas da Serra do Tabuleiro, que ficam a poucos quilômetros dali. E a praia faz belas curvas, formando baías ornamentadas com pedras de vários formatos e tamanhos. Entretanto, o mar não é próprio para banho, pois o fundo é cheio de lama e restos de conchas.

Vista do alto do Morro do Cambirela, na Serra do Tabuleiro. As montanhas ao fundo são da ilha de Florianópolis
O terreno dos meus avôs até que não era pequeno. Era de areia, mas na frente da casa havia um gramadinho com algumas flores – algo típico em Santa Catarina. Atrás da casa havia um “ranchinho”, que era uma espécie de segunda cozinha, com um fogão a lenha feito de barro, utilizado mais para fritar e assar peixes, prato principal na região. Ao lado esquerdo do ranchinho, havia algumas árvores frutíferas, como goiabeira, limoeiro e um pé de fruta-do-conde, que eu adorava.

Uns quatro metros para trás, ficava minha casinha amarela. E mais um pouco para o fundo, do lado direito, ficava o galinheiro, onde patos, marrecos e galinhas conviviam em paz. Em seguida, começava o manguezal, com algumas centenas de metros de extensão, talvez um quilômetro.

Minha mãe não estava acostumada àquela realidade e estranhou muito no começo. Eram culturas bem diferentes. A família dela era de origem alemã e trabalhava nas plantações o dia inteiro. Parecia não terem tempo para risos e brincadeiras. Depois ela foi criada na cidade e acabou se adaptando à comodidade da vida urbana, com seus confortos – como um banheiro decente, por exemplo.

Meus pais, Zulmar e Lúcia, comigo
Embora eu tenha nascido em circunstâncias não muito favoráveis para meus pais, sei que fui muito amada. E o amor que minha mãe nutria por mim aliviava um pouco o sofrimento de sua vida difícil. Depois, apesar de não desejarem outro filho naquela situação adversa, ela engravidou de meu irmão e, quando eu tinha um ano e cinco meses, o Robson nasceu.

Com oito anos de idade
Enquanto minha mãe o embalava para dormir, eu a imitava com meu boneco de plástico. Eu tinha muito ciúme dele e sempre estávamos disputando a atenção da mãe. Mas eu também queria ajudar a cuidar dele e protegê-lo. Quando crescemos um pouco, eu sempre o defendia se algum menino quisesse brigar com ele. Entretanto, quanto mais os anos passavam, mais distantes ficávamos um do outro. Tínhamos carinho mútuo, mas nossos interesses eram muito diferentes e, se ficávamos muito tempo juntos, acabávamos brigando.

Débora e Robson em 1986
Pouco antes de eu completar três anos, nossa casa de madeira foi transportada em cima de um caminhão para um terreno que meu pai havia comprado, distante uns dois quilômetros da casa dos meus avôs. O lugar ainda era pouco habitado na época e havia apenas umas cinco famílias ali, nossos vizinhos. Logo teve início a construção de nossa nova casa de alvenaria. O banheiro – sim, agora tínhamos banheiro! – ficou pronto bem rápido. Mas a construção toda só ficou pronta vários anos depois.

O Binho (como chamávamos o Robson) e eu nos divertíamos muito brincando naquele lugar com nossos amiguinhos. Não havia muitos perigos como hoje e corríamos livremente com as outras crianças do bairro. Subíamos nas muitas árvores – principalmente pitangueiras – que havia ao redor das casas e nos terrenos da vizinhança. Comíamos pitanga de várias qualidades o dia inteiro, até enjoar. Brincávamos de esconde-esconde, de carrinho, de casinha, de taco e muitas outras brincadeiras que inventávamos e que em nossa imaginação eram grandes aventuras.

Somente quando fui para a escola é que comecei a considerar minha vida infeliz. Aos seis anos, a primeira série foi um tormento para mim. Eu era excessivamente insegura e tinha medo de ficar longe da minha mãe. Com o tempo, fui me acostumando àquela rotina e me conformando com a situação. Mas foi quando mudei de escola que as coisas pioraram de vez. Eu já havia me tornado mais independente, nessa época. O problema era outro.

A primeira escola em que estudei era pública e todos os alunos eram praticamente da mesma classe social. Na verdade, quase todos eram ainda mais pobres do que eu. Porém, na segunda série, meus pais decidiram – e com razão – que eu me desenvolveria mais estudando numa escola particular no centro da cidade.

Na minha turma havia duas outras meninas que também moravam na Barra do Aririú. A maioria dos alunos eram filhos de comerciantes, empresários e políticos que moravam perto da escola. As crianças ricas nos menosprezavam porque morávamos num bairro pobre e distante dali.

As carteiras (mesas) acomodavam dois alunos. A professora fazia rodízio para que sempre mudássemos de lugar. Certa vez, uma menina recusou sentar-se comigo. Ela disse que eu devia ter cheiro de peixe e que meus cadernos eram encapados com saco de lixo. A professora a repreendeu na frente de todos e a puniu pela discriminação. Mesmo assim, continuamos a ser excluídas das brincadeiras. Éramos alvo de piadas e acabamos nos sentindo diferentes.

Passei a me considerar inferior. Ficava triste quando saía da escola e via meus colegas entrando em seus lindos carros, ao passo que eu tinha que pegar o ônibus velho. Antes eu não sentia falta de quase nada em minha vida simples de criança. Mas a verdade é que não era a carência de bens materiais que mais me entristecia agora; era o fato de me sentir rejeitada. Não entendia por que a vida era tão injusta e por que meus pais não poderiam ter tido a mesma oportunidade de prosperar.

Meu pai sempre tentava me consolar mostrando o quanto eu era privilegiada. Ele dizia que quando tinha a minha idade fazia o mesmo percurso de sete quilômetros da Barra ao centro caminhando descalço, pois não tinha calçados nem para ir à escola. Mas isso não me servia de consolo e, sem querer, acabei desenvolvendo valores distorcidos. Achava que só gostariam de mim se eu estivesse bem vestida, tivesse uma bela casa e um bom carro.

Eu amava profundamente meus pais e era grata por tudo o que eles faziam por mim. Sabia que eles estavam me dando o melhor que podiam, mas se eu pudesse escolher onde nascer, teria escolhido outro lugar. Queria ter a mesma família, mas em circunstâncias diferentes. Meu pai dizia que eu deveria estudar muito, e tudo mudaria. O que eu queria mesmo era nascer de novo, mas não sabia como. Deus iria atender o meu pedido – de uma maneira completamente diferente do que eu esperava.

Nessa época eu já conversava com Deus, mas não O conhecia. O que eu pedia era que Ele me ajudasse a ser como as outras crianças da escola.

Eu não conhecia quase nada sobre o verdadeiro Deus. A família do meu pai era espírita. Minha avó me contava histórias sobre feiticeiras que assombravam aquele lugar e se escondiam dentro das moringas (vasos de barro feitos pelos oleiros da região). Histórias de mulheres misteriosas que seduziam os pescadores no mar e depois desapareciam. Meu avô também sempre tinha um “caso” assombroso para contar, de coisas sobrenaturais ocorridas durante as pescarias. Ele até descrevia em detalhes a vez em que foi perseguido pelo “lobisomem”.

O resultado disso tudo foi que meu pai e seus irmãos passaram a se relacionar com os “espíritos” e a procurar centros espíritas para buscar explicação para tais fenômenos. Eu cresci com muito medo de “fantasmas”. Sentia pânico só de ficar sozinha e queria estar sempre o mais perto possível da minha mãe. Ela aprendeu a doutrina católica com as freiras do orfanato, mas nunca a vi se relacionar com Deus. Ela achava que Deus era muito severo e estava sempre disposto a castigar quem desobedecia, o que a mantinha distante dEle. Afinal, foi essa a religião que ela aprendeu desde a infância.

Mas mesmo com todo o medo que eu sentia, no fundo e de alguma forma eu sabia que podia recorrer a um “Ser maior” e mais poderoso e pedir para Ele me proteger. Em meio a tanta confusão sentimental e espiritual, eu já sentia os pequenos “toques” de Deus me preparando para um dia conhecê-Lo de verdade e me libertar de tudo aquilo.

Quando Jesus me encontrou, eu era uma adolescente que já se havia machucado de tanto correr atrás de ilusões. Mas ainda queria ter a chance de nascer de novo. Começar outra vez. Como nos meus sonhos infantis.

O dia do meu batismo na igreja adventista foi exatamente isso. Jesus me deu um novo coração. Novas motivações. Libertou-me daquela ambição tola de achar que ter é poder. Livre do medo de um inimigo que atormenta as pessoas, brincando de “fantasma”. Livre, finalmente, para ser feliz ao lado do Deus que havia muito tempo estivera tentando chamar minha atenção, como que a dizer que meu desejo de nascer de novo era possível – o Deus que sempre havia cuidado de mim e esteve disposto a dar o que é melhor para minha vida, para me aperfeiçoar e me tornar uma pessoa melhor.

Foi num domingo à noite, 25 de setembro de 1994, que a minha vida enfim passou a fazer sentido. Começava ali uma nova caminhada. Um caminho totalmente diferente daquele no qual eu até então havia andado. Ainda tropeço, de vez em quando, como uma criança que se esforça para caminhar ao lado do pai. Mas Jesus nunca solta minha mão e me levanta quando caio. O medo se foi.

Ainda morava ali, naquele mesmo lugar. Eu é que havia mudado. Jesus me devolveu a capacidade de ser feliz com as coisas simples desta vida e eu me sentia novamente como uma criança.

A Primavera é a minha estação preferida. Tudo parece renascer nessa época. O clima agradável me traz uma sensação de alegria, festividade e a esperança de que os dias sejam sempre melhores. Nada melhor, então, do que me entregar totalmente a Jesus no Batismo da Primavera. E foi o que decidi.

Aquele dia estava quente e agradável. No fim da tarde, o famoso vento sul começou a soprar cada vez mais forte, tornando-se numa grande ventania que refrescou a noite em que a Teca e eu seríamos batizadas.

Na tarde daquele dia, a Teca e a Rafaela foram até a minha casa. O Michelson já estava lá. A Teca e eu precisávamos conversar antes do nosso batismo. Não sei por que, nossa amizade parecia um pouco desgastada ultimamente. Talvez porque agora eu passava muito mais tempo com o Michelson, o que fez com que ela acabasse buscando o apoio e a companhia da Rafaela. Sentíamos falta uma da outra, mas quando estávamos juntas frequentemente divergíamos sobre alguns assuntos. Eu sofria naturalmente a influência do meu namorado e ela, a da Rafaela. Mas sabíamos que nada mudaria o amor que tínhamos uma pela outra. Éramos como irmãs, e irmãs nem sempre estão de acordo. Nos abraçamos, pedimos perdão por eventuais mágoas e oramos pedindo a Jesus que permanecesse para sempre conosco e nunca deixasse nossa amizade acabar – muito mais a partir daquele momento em que iríamos renascer juntas nas águas do batismo. Para mim, aquele dia era um milagre. Uma resposta de Deus às minhas orações regadas com muitas lágrimas.

Alguns irmãos da igreja do meu bairro foram assistir ao nosso batismo, realizado na Igreja Central de Florianópolis, a mesma igreja onde sete meses antes eu havia conhecido o amor da minha vida. Meu irmão e minha mãe aceitaram nosso convite e foram assistir à cerimônia. Infelizmente, nenhum parente da Teca compareceu (mas Deus tinha planos especiais para o irmão mais novo dela, o Lenilson).

O Robson, meu irmão, ficou bastante emocionado com tudo o que viu. Mas foi minha mãe quem me surpreendeu: ela não só ficou emocionada naquele momento especial, mas parece que se tornou outra pessoa a partir dali. Até então, ela sempre se esquivava de nossos convites para estudar a Bíblia conosco e conhecer melhor a mensagem adventista, porque achava que iríamos fazer algum tipo de “chantagem emocional” ou ameaçá-la de queimar no “fogo eterno”, caso não se convertesse. “Já cansei de ouvir essa conversa”, ela dizia. Sem perceber, minha mãe ainda dava ouvidos aos ecos da religião distorcida e opressora que havia aprendido na infância. Como tudo é diferente quando se conhece o verdadeiro Deus revelado em Cristo! Como eu queria que ela conhecesse esse amorável Salvador a quem eu estava entregando a vida.

Graças a Deus, ao me ver no tanque batismal e contemplar minhas lágrimas de alegria, algo mudou dentro dela. O Espírito Santo transformou seu coração e ela pareceu ter visto Jesus em pessoa naquela noite. Não parava mais de pensar nEle e de querer estar com Ele. No dia seguinte, ela pediu para estudar a Bíblia com o Michelson e comigo, o que fizemos com muita alegria.

Aos poucos, minha mãe foi compreendendo que, ao contrário do que ela pensava, Deus faz e continua fazendo de tudo para nos dar a vida eterna – Jesus já pagou a dívida da humanidade na cruz e prossegue Sua obra de intercessão no santuário celestial. Finalmente, aquela menina órfã encontrou consolo nos braços do Pai. O amor de Jesus venceu todos os preconceitos e rancores dela. Dali alguns meses, ela também seria batizada como eu fui, o que deixou meu pai muito feliz por ter a família quase completa na mesma fé.



Naquela noite do meu batismo, na Igreja Central de Florianópolis, era impossível não me emocionar. Ao olhar para a Teca ali do meu lado, pude perceber como o poder de Deus faz o impossível acontecer. Ao recordar tudo o que nós duas havíamos passado para estar ali, juntas, senti o amor de Jesus uma vez mais nos envolvendo, cuidando de nós de maneira carinhosa e especial. A maior evidência da existência de Deus e de Seu amor naquele momento éramos nós duas e nossa vida renovada. Sentia-me serena e feliz, como nunca antes. Uma paz indescritível invadiu-me o coração. E no momento em que vi que o Michelson cantaria uma música especial para mim, as lágrimas brotaram abundantes.

Ele se virou para mim, olhou em meus olhos e cantou uma linda canção, cuja letra dizia que Jesus me ama como uma criança, para sempre. Senti-me como uma menininha novamente, como se toda a minha história estivesse começando a partir daquele momento, quando ouvi as palavras “Como criança eu pra sempre vou te amar”. Tive a certeza de que Jesus me trataria com o mesmo amor, para sempre, mesmo que eu viesse a falhar de vez em quando, tropeçando aqui e ali para aprender a caminhar. Ele me amaria como Sua filhinha e jamais me abandonaria.

A música originalmente cantada pelo pastor Fernando Iglesias era muito linda. Mas para mim ela se revestiu de um significado ainda mais profundo pelo fato de ter sido cantada pelo Michelson. Eu o amava tanto e pensava que para ter o amor de alguém tão maravilhoso Deus realmente havia me perdoado.

Nós dois ainda frequentávamos a Igreja Central de Florianópolis, mas nossas visitas ao grupo da Barra do Aririú se tornaram cada vez mais frequentes. O Michelson era convidado para pregar lá pelo menos uma vez por mês. E como fomos nos envolvendo cada vez mais nas atividades da congregação e ministrando estudos bíblicos para pessoas ali do bairro, acabamos ficando de vez com os irmãos daquela igreja. Algum tempo depois, o Michelson foi eleito diretor do grupo.

Eu havia sofrido tanto ali, no passado. Só que agora tudo prometia ser diferente – Deus estava me dando, até nesse aspecto, uma chance de recomeço. Agora eu sabia realmente quem era Jesus e tinha o Michelson ao meu lado.

Um dia fui ajudar minha mãe a limpar a igreja do nosso bairro. Como não havia utensílios suficientes lá, eu levei de nossa casa uma vassoura e um balde. Terminado o trabalho, voltávamos para casa, conversando felizes pela rua. Eu estava cansada e suada, mas muito satisfeita por ter ajudado a deixar em ordem a casa de Deus. De repente, me dei conta da minha aparência e comecei a rir comigo mesma. Vestia uma “roupa de crente”, com chinelos de borracha e uma vassoura nas mãos. Realmente não me importava mais com superficialidades ou com o que os outros iriam pensar de mim, contanto que estivesse fazendo o que era correto e nobre. Deus havia quebrado meu orgulho e vaidade. Meu conceito de beleza era outro agora: a beleza da simplicidade, do bom gosto e da decência.

Finalmente eu me sentia livre por não mais pertencer a este mundo. Quando era ainda bem pequena, eu olhava para o céu e perguntava por que eu tinha que ter nascido ali, naquele lugar, e levar aquela vida. Naquela tarde, essa pergunta não mais me incomodava. Olhei para o céu, mas em lugar da pergunta, fiz um agradecimento: “Obrigado, meu Jesus, por me fazer nascer de novo.”

6 comentários:

Fred Torres disse...

Ganhei o dia com essa atualização.
=D
Que Deus os abençoe muito!!
Abraços!

Anónimo disse...

Olá,pude ler mais um capítulo maravilhoso da história de vocês,
parabéns!
Demorou hein!!
Que o nosso bom Deus os abençoe,
fiquem na paz.

Um abraço.

Jocilene Bravim

Anónimo disse...

ÊÊÊ!!! Gente que bom que vcs postaram! Até que enfim...hehe
Obrigada por partilharem as bençãos que Deus derramou na vida de vcs!
Um grande abraço,

Luíze Alves

Anónimo disse...

estou esperando a continuação da história,por favor......tem sido uma bênção...conta mais vai..
um grande abraço.

gleicia

Anónimo disse...

Especialmente hoje q está sendo um dia cheio de incertezas para mim, pude entender nas histórias de vocês, que eu também não estou sozinha e que nada é demasiadamente difícil para o Nosso Grande DEUS...Obrigada por partilharen essas experiências. Maria Aparecida!!!

Anónimo disse...

Que linda história de vida :) Obrigado por compartilhar. Que Jesus continue abençoando você e sua família. Abraços.
-IsMAeL