sexta-feira, novembro 03, 2006

Capítulo 12 - Outra vez na igreja

Débora Borges

Meus pais ficaram furiosos quando informei que iria parar de trabalhar na loja. Minha mãe não podia compreender e meu pai não acreditava mais em mim. Ele achava que era pura irresponsabilidade e que novamente eu iria frequentar a igreja por algum tempo e depois me afastar. Eu não o culpava por pensar assim e tudo o que fiz foi ouvir calada sua oposição e ameaça:

– Pode sair. Mas você terá que pagar suas contas. Além do mais, não vou comprar mais nada para você! Nem roupa, nem calçados, nada. Só vou dar o que precisa para viver. Com o resto, você vai “se virar” sozinha.

– Tudo bem – respondi, sabendo que ele estava só me testando.

Mas, por conta disso, tive que trabalhar até o fim do mês para saldar minhas dívidas que, felizmente, não eram muitas – apenas algumas peças de roupa da própria loja em que eu trabalhava. Se não fosse por isso, eu teria abandonado o emprego bem antes a fim de servir completamente a Deus.

O tempo passou tão rápido que nem percebi que o dia de o Michelson pregar na igreja adventista do bairro Forquilhinhas havia chegado. Além do mais, eu estava tentando não pensar nisso e nem teria coragem de pedir à Rafaela para ir junto. Já havia decidido que se fosse para encontrá-lo novamente seria uma ocasião promovida por Deus. Definitivamente, eu não tomaria nenhuma iniciativa. Também não tinha esperanças de que a Rafaela fosse me convidar, pois era natural que ela não me quisesse por perto.

Aquele parecia um dia comum de trabalho no shopping, mas quando voltei do almoço vi que havia um recado para mim num pedaço de papel ao lado do telefone: “Débora, ligar para Michelson.” E havia um número de telefone anotado. Quando coloquei os olhos naquele bilhete, não consegui acreditar. “Será que anotaram certo? Será que não é Michel?” Naquele mesmo dia, quando tomei o ônibus, sentei-me ao lado de um amigo que se chama Michel, por isso pensei que ele houvesse esquecido de me dizer algo e havia me ligado para, quem sabe, dar um recado de sua irmã, que também era minha amiga. “Deve ser isso... Não vou me iludir.”

– Quem anotou este recado? – perguntei para as colegas de trabalho.

– Foi o gerente. Ele está lá no escritório – respondeu-me uma delas, a Dani, sorrindo e demonstrando preocupação ao mesmo tempo. Seus olhos pareciam dizer: “Melhor não incomodar o gerente.”

– Ah, mas eu não vou aguentar, Dani – disse isso e já fui subindo a escada em direção ao escritório.

– Com licença. Preciso fazer uma pergunta.

– Hum... – ele nem levantou a cabeça e continuou lendo algo sobre a mesa.

– Foi o senhor que anotou este recado, não foi? Tem certeza de que o nome é Michelson?

– Tenho, mas não se esqueça de que nosso telefone é comercial. Não vá ficar batendo papo.

– Tá bom, vou falar rapidinho. Prometo – não consegui conter a euforia e saí correndo.

Estava ofegante e tentei me acalmar um pouco antes de pegar o telefone. Minhas mãos tremiam ao teclar o número. O que será que o Michelson iria falar? E eu? Estava tão nervosa, mas não queria demonstrar isso.

Ele atendeu e também parecia nervoso (acho que não foi tão feliz em disfarçar quanto eu). Depois de algumas palavras, ele lembrou o convite que havia feito para a Rafaela e para mim, um mês antes. Era lógico que, em consideração à Rafaela, eu não deveria ir. Durante todo aquele mês, ela não me procurou. Obviamente não queria que eu fosse àquela igreja e me encontrasse com o Michelson novamente. Mas não consegui me conter. Estava experimentando emoções tão fortes com a conversão da Teca que não suportava mais não poder compartilhar isso com alguém. Queria especialmente que o Michelson e a Rafaela soubessem disso e pudessem se alegrar comigo e orar por nós. Além disso, ouvir a voz dele me convidando de modo tão gentil e saber que ele também queria me ver a ponto de descobrir o telefone da loja e me ligar – tudo isso tornou o convite irresistível e acabei aceitando.

Quando cheguei ao terminal rodoviário, ali estava uma amiga da Rafaela, a Sônia. Eu não sabia que ela também iria à igreja de Forquilhinhas. E ela também ficou surpresa em me ver.

– Você também vai, Tati? A Rafaela convidou você? – o tom de voz dela revelava contrariedade. Ela sabia que a Rafaela não me queria ali.

– Acho que ela se esqueceu de me ligar. Foi o Michelson que me ligou hoje, para me lembrar do convite – ela simplesmente sorriu, balançando a cabeça de forma negativa.

Senti vontade de me esconder, mas já era tarde. Eu estava ali. Todo constrangimento pareceu valer a pena quando o Michelson chegou. Nossos olhos pareceram se abraçar em pleno ar. Ele era lindo sem a barba! Mais do que eu havia imaginado. Era maravilhoso poder sentir seu olhar sobre mim novamente. Queria que aquele momento nunca terminasse. Ele veio acompanhado de um amigo que parecia estar interessado na Sônia. Estava tudo certo... Exceto pela minha presença intrusa.

A Rafaela chegou logo em seguida. Fui ao encontro dela, mas de longe pude ver a expressão de indignação. Suas primeiras palavras foram:

– O que você está fazendo aqui?

– O Michelson me ligou e convidou.

Ela pareceu ainda mais chocada com a resposta e emudeceu. Certamente, a situação era pior do que ela pensava. Depois, tentou disfarçar e, ao nos aproximarmos dos outros, esforçou-se para demonstrar simpatia por mim também.

Eu achava que poderia estar ali sem que ninguém soubesse dos meus sentimentos pelo Michelson, mas era claro que a Rafaela havia percebido tudo. E a maneira de ela me tratar não poderia ser a mesma de antes. Lamentei profundamente tudo aquilo, ainda mais ao perceber que dali em diante ela passou a competir comigo pela atenção do Michelson e a me ver como rival e não amiga. Eu não sabia o que fazer para mudar aquilo. Todos pareciam perceber o que estava acontecendo, menos o Michelson. Eu estava tão feliz pelo fato de ele me dar total atenção... Mas ao mesmo tempo me sentia muito mal com o pensamento de estar sendo uma grande traidora.

Quando o ônibus chegou, fui a primeira a entrar. A Rafaela entrou depois de mim e se sentou no outro lado do corredor. Eu esperava que ela se sentasse ao meu lado, mas devia estar tão magoada que não o fez – ou talvez esperasse que o Michelson se sentasse ao lado dela. Mais uma vez não sabia se ficava feliz ou triste: ele escolheu se sentar comigo! A situação era terrível. Eu queria poder desfrutar o momento. Estar juntos, sentir que ele também gostava de mim era maravilhoso. Mas aquilo que eu estava fazendo era completamente errado. Minha amiga estava sofrendo. Eu queria não demonstrar meus sentimentos por ele e poder não corresponder a seu olhar, mas diante dele isso era impossível. Eu não devia mesmo estar ali...

O sermão do Michelson foi grandemente inspirado por Deus. Ele me fez esquecer por alguns minutos de tudo ao meu redor e me levou para bem perto de Jesus. Sentia-me aceita novamente por Deus como se o tempo tivesse voltado dois anos, quando O conheci pela primeira vez, lendo a Bíblia numa madrugada triste. Parecia que se estendesse a mão poderia tocar a dEle e começar tudo outra vez. Desejei que o Michelson estivesse para sempre comigo, e quanto mais o ouvia mais tinha certeza disso. Mas tinha medo de que Jesus reprovasse esse meu desejo, porque eu achava que não devia sentir isso. Apesar desse temor, algo me dizia que era o próprio Jesus quem estava nos aproximando.

Foram momentos maravilhosos os que passamos juntos. Mas chegou a hora em que todos foram embora e tive que enfrentar minha amiga. Era difícil até de olhá-la nos olhos. Eu não sabia o que dizer e nem poderia me desculpar. Como poderia fazer isso? “Me desculpe. Estou amando a mesma pessoa que você.” Eu realmente o amava, mas simplesmente deveria ter ficado longe dele.

– Você percebe o que está fazendo? – a pergunta expressava toda a mágoa que ela sentia.

– O que estou fazendo? – devolvi a pergunta, com ar triste.

– Você está “dando em cima” dele descaradamente! – a indignação não lhe permitia mais usar de meias palavras.

– É mesmo? – da tristeza e arrependimento passei para o inconformismo. A Rafaela não estava certa nisso. Para mim, era claro que o Michelson é quem estava me cortejando. E apesar de eu estar adorando aquilo, simplesmente correspondia mais por educação. Não admitiria que ela fizesse parecer que era eu quem estava tomando a iniciativa.

– É isso mesmo! – prosseguiu a Rafaela – Se você não tivesse feito isso ele estaria comigo. Você estragou tudo!

– É assim que você pensa, Rafaela? Então está bem. Eu prometo que nunca mais vou encontrá-lo. Vou me afastar de vocês e deixar que fiquem juntos. Se sou eu quem está impedindo que isso aconteça, não será mais por isso que você não ficará com ele. Eu sei que lhe devo desculpas por estar aqui hoje. Sei que errei. Mas estou com a consciência limpa porque sei que não “dei em cima” dele. Além do mais, foi ele quem me ligou convidando.

– Você sabia que eu queria estar a sós com ele, e mesmo assim veio, Tati.

– Eu sei. Me desculpe. Admito que sinto algo muito forte pelo Michelson, mas prometo que vou tentar esquecê-lo e nunca mais vou vê-lo. Eu não queria fazer você sofrer. Foi uma fraqueza da minha parte, mas não tornará a acontecer. Não quero deixar de ser sua amiga.

– Está bem. Quero conversar com você com mais calma, outra hora. Vá até a minha casa – ela fez uma pequena pausa, como que pensando em algo antes de prosseguir, e completou: – na sexta-feira à noite.

– Pode deixar que eu irei sim.

Eu lamentava muito aquela situação, mas não conseguia reprimir o que sentia pelo Michelson. Não parava de pensar nele, por mais que tentasse. Mesmo assim, decidi não vê-lo mais, até que a Rafaela desistisse dele e se convencesse de que eu não era culpada pelo fato de ele não gostar dela.

*****

Estava quase terminando o expediente na sexta-feira quando o Michelson me ligou. Tive certeza de que ele também pensava em mim e queria estar comigo, assim como eu queria. Mas a promessa feita à Rafaela me obrigou a esconder meus sentimentos. Como era difícil ouvir a voz dele me convidando para encontrá-lo e ter que dizer não! Como gostaria de contar tudo o que sentia por ele e sobre a Rafaela... Mas não poderia traí-la dessa maneira. Queria muito conversar com ela naquela noite. Abrir-lhe o coração e obter seu perdão. Agora que eu estava voltando para a igreja e levando a Teca a Jesus queria que a Rafaela estivesse por perto para me apoiar. Sentia falta de poder dividir meus fardos com alguém que pudesse ser um conselheiro espiritual.

Chamei o nome da Rafaela por algum tempo, em frente à casa dela. Até que o irmão dela apareceu na janela:

– A Rafaela não está. Ela foi lá na Igreja Central de Florianópolis.

O chão pareceu sumir debaixo dos meus pés e me senti uma verdadeira tola. A Rafaela simplesmente queria garantir que eu não fosse estragar novamente sua chance de estar a sós com o Michelson. E conseguiu.

“Tudo bem”, pensei. “Vamos ver o que vai acontecer. Hoje ela vai deixar claro o que sente por ele e vai saber se ele também sente algo por ela ou não.” Confesso que senti um frio na barriga só de pensar que ela tivesse razão – que se eu não estivesse por perto ele ficaria em dúvida quanto a seus sentimentos quando descobrisse que ela gostava dele. Mas me convenci de que aquilo era necessário para definir as coisas. Era uma boa oportunidade para descobrirmos de quem ele gostava realmente. Mesmo com essa conclusão lógica, o desconforto no estômago não cessou.

Não conseguia parar de imaginar a cena dos dois caminhando até o ponto de ônibus. O que ele faria no momento em que ela se declarasse? Quase não dormi naquela noite pensando nessas coisas.

Aquele, felizmente, era meu último sábado na loja. Eu já estava farta de ter que estar ali, ainda mais naquele dia: com sono, ansiosa e preocupada. Acho que eram evidentes minha irritação e inquietação. Queria que aquele dia acabasse logo para saber o que havia acontecido na noite anterior.

Meu coração só ficou mais aliviado quando o Michelson novamente me ligou, depois do meu horário de almoço. “Ele ainda gosta de mim”, pensei, emocionada. E mais uma vez tive que dar uma desculpa qualquer para dizer que não poderia ir à igreja à tarde. Mas não pude conter minha curiosidade e quis saber como havia sido o encontro dele com a Rafaela. Quando ele me disse que nem mesmo a havia visto, eu não sabia se ficava triste ou feliz. Era óbvio que ele não estava interessado em vê-la, mas essa indefinição aparentemente se prolongaria por mais tempo e minha agonia e a da Rafaela também. Não suportava mais ter que rejeitar os convites dele e, por impulso, acabei falando que iria à Igreja Central no domingo à noite. “Não devia ter dito isso”, pensei na hora. Mas concluí que a Rafaela não poderia me culpar por isso, pois fazia já algum tempo que eu estava acompanhando a Teca aos cultos da central. Não era correto deixar de ir com ela naquele domingo só porque o Michelson estaria lá. De qualquer forma, era um bom argumento para aplacar a consciência...

*****

Estava muito quente naquele domingo. Quando ainda estávamos no ônibus, a caminho de Florianópolis, começou a chover forte. Eu já estava nervosa e agora ainda me preocupava também com a chuva.

– Como vamos caminhar do ponto de ônibus até a igreja nessa chuva?

– Calma, Tati. É só uma chuva de Verão. Já vai passar.

A Teca tinha razão. O ônibus levava cerca de uma hora para chegar ao centro da capital (isso antes da duplicação da BR 101), e quando chegamos a chuva já havia parado. O cheiro de chão quente molhado enchia o ar. Tínhamos que desviar das poças d’água pelo caminho a fim de não encharcar os sapatos.

Sentamos no penúltimo banco do lado esquerdo da igreja. O Michelson e seus amigos de pensão estavam sentados uns quatro bancos à nossa frente. Agora eu podia observá-lo por outro ângulo. Ele estava usando camisa mostarda e calça jeans azul escuro, e carregava um guarda-chuva preto. De vez em quando, antes de o culto começar, ele cochichava algo para os amigos e eles sorriam. O pregador começou a falar e tive que fazer força para me concentrar em suas palavras. Tudo o que eu queria era que o Michelson me visse ali. Ele chegou a dar umas espiadas para trás, mas não conseguiu me ver. Eu estava começando a ficar angustiada.

Como estava sentada mais atrás, eu poderia ter saído primeiro, sem falar com ele, mas achei que isso seria muita “falta de educação”, e não tive coragem de ir embora sem ao menos cumprimentá-lo.

Ficamos paradas nos degraus da escada em frente à igreja, esperando que ele passasse por ali. Mas ao sair ele ficou encostado no murinho do primeiro patamar, esperando pelos amigos que conversavam com muitas pessoas que estavam ali paradas à porta.

De repente, ele me viu, sorriu e convidou para que eu fosse até ele. Segurei a mão da Teca e puxei-a na direção dele.

– Oi, Michelson, tudo bem? – falei, enquanto lhe estendia a mão.

– Tudo. Senti sua falta no curso, ontem. Que pena que você perdeu...

– Agora terei mais oportunidades. Este foi meu último sábado na loja. Esta será minha última semana de trabalho. Semana que vem estou livre!

– Que bom saber disso!

– Deixe-me apresentar minha amiga, a Teca.

– Você é a famosa Teca! A Débora fala muito de você.

– É mesmo? É porque somos quase irmãs.

– A Bíblia diz que há amigo mais chegado que um irmão.

– É verdade. Nós somos – eu confirmei.

Em seguida, o Michelson apresentou a Teca para seus amigos Lauro e Luís, e ela ficou conversando com eles.

– Michelson, agora a Teca e eu temos que ir, senão perderemos o ônibus.

– Não faz mal, vocês pegam o próximo. Fique mais um pouco.

– Não posso.

– Por que não?

– É um pouco chato falar isso, mas não quero que você pense que sou antipática ou que não gosto de você, não é nada disso. Mas não posso continuar sendo sua amiga.

– Por quê? O que eu fiz? – ele perguntou, espantado.

Eu apenas sorri e respondi:

– Você não fez nada. Eu não posso falar o porquê. Por enquanto terei que evitar sua companhia.

– Eu já sei por quê.

– Sabe?!

– É por causa da Rafaela, não é?

Agora era eu quem estava espantada.

– Como você sabe?

– O Giovane me contou que ela está gostando de mim

– É por isso. Eu não sei por que – tentei dissimular – mas ela está com ciúmes de mim, e eu não quero perder a amizade dela.

– Mas isso não é justo! Eu nunca senti nada por ela além de amizade. Nunca sequer suspeitei que ela me visse de outra maneira. E se você não falar mais comigo todos sairemos perdendo. Não ficarei com ela e nem falarei com você. Isso não pode acontecer – ele argumentava quase desesperadamente.

– Eu sei, mas prefiro evitar essa situação. Além disso, só virei aqui aos fins de semana e você não estará aqui mesmo...

– Mas e quando eu estiver? Não poderei falar com você?

– Acho melhor não.

– Não posso acreditar nisso – ele estava inconformado.

– Por que você não dá uma chance à Rafaela? Ela é uma pessoa muito legal. Você tem namorada em Criciúma ou gosta de alguém?

– Não, não tenho namorada. E não consigo olhar para a Rafaela de outro jeito, senão como amiga e irmã na fé.

– E aí, Mic? Vamos tomar sorvete? – o Luís cortou nossa conversa.

– Vocês vêm com a gente? – o Michelson aproveitou a deixa e reforçou o convite.

– É claro que sim! – a Teca respondeu sem ao menos me consultar. – Agora já perdemos o ônibus mesmo...

Não tive chance de opinar. Contrariando tudo o que eu havia dito, acabei não resistindo ao convite e fui com eles à sorveteria. A Teca não somente havia se convertido como tinha mudado de opinião em relação ao que eu sentia pelo Michelson. Agora ela – que inicialmente não queria que eu namorasse um adventista – me incentivava a ficar com ele e argumentava que isso não seria errado, uma vez que ele nunca havia tido qualquer envolvimento com a Rafaela, além da amizade.

A caminho da sorveteria, que ficava numa ruazinha em declive, próxima à Praça XV e ao lado da Catedral, continuamos nossa conversa.

– E você, Débora, já gostou ou gosta de alguém da igreja?

Então lhe contei a história da minha conversão e a decepção que tive com o Carlinhos. Ele também falou um pouco sobre a vida dele antes de se tornar adventista. Disse como conheceu a Cristo, comentou sobre o amor platônico de sua adolescência e que tivera a primeira namorada aos dezoito anos, tendo ficado pouco tempo com ela. Agora ele estava esperando a pessoa certa indicada por Deus. Enquanto ouvia a história eu sentia uma vontade imensa de fazer parte da vida dele. Estava tão imersa na conversa que nem quis tomar sorvete. Apenas provei um pouco do sorvete de creme que ele estava tomando.

Quando já estávamos indo embora ele falou:

– Agora que você já pensou melhor na maldade que iria fazer comigo... Você sabe que eu vou pregar na igreja próxima à sua casa na quarta-feira, não é? – Fiz que sim com a cabeça e ele prosseguiu: – Você poderia me ensinar o caminho? Eu passo lá no shopping e podemos ir juntos. O que acha?

– Não sei, Michelson. Tenho que pensar – disse isso sem conseguir esconder o sorriso de satisfação. Ele esperou alguns segundos e tornou a perguntar:

– Já pensou?

– Está bem. Tá combinado. Quatro horas da tarde nos encontramos na porta principal do shopping, aquela em frente à Avenida Beira-Mar.

– Débora, não se preocupe com a Rafaela. Um dia ela vai entender e seremos todos amigos.

– Espero que você tenha razão.

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