quarta-feira, janeiro 25, 2006

Capítulo 2 - O dia em que o tempo voltou

Débora Borges

Localizada cinquenta quilômetros ao sul de Florianópolis, a Praia da Pinheira pode ser considerada um verdadeiro “paraíso na Terra”. É uma das poucas praias catarinenses que ainda desfruta de natureza exuberante e intocada. Isso porque a região está dentro do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, área ambiental protegida por lei estadual. E ali estava eu, naquele paraíso, com minhas amigas, como sempre costumávamos fazer nos fins de semana de Verão.


Parecia um dia como outro qualquer. Depois de tomar sol por algum tempo, o calor e o suor tornaram a água fresca do mar extremamente convidativa. A Marcelli, a Teca e eu resolvemos nos refrescar um pouco. Deixamos nossas coisas na areia e entramos no mar. Quando a água estava na altura dos joelhos, o cenário tranquilo começou a mudar completamente. De repente, ouvimos um som como de trovão, ao longe, ecoando por detrás das montanhas, mas tão forte que o chão parecia estremecer. Quando olhei para baixo, percebi que a água havia se tornado vermelha como sangue. O céu ficou cinza com manchas avermelhadas. As nuvens corriam rapidamente e faziam movimentos circulares, parecendo enrolar-se. Tudo acontecia ao mesmo tempo. As pessoas gritavam e corriam de um lado para o outro, desesperadas, sem entender o que estava acontecendo. Fiquei atônita e paralisada de medo, enquanto minhas amigas me observavam com os olhos arregalados.

– Tati, o que está acontecendo?

Era como se eu tivesse que lhes dar uma resposta, já que elas me consideravam a mais religiosa do grupo.

Só havia uma explicação:

– Eu sei o que é isso. Jesus está voltando!

Ao ouvir minhas próprias palavras, saí do estado de estupor e tive vontade de correr e me esconder, mas percebi que não daria tempo e nem teria para onde fugir. Então, caí de joelhos ali mesmo, dentro da água sanguinolenta, e implorei por misericórdia. Eu não tinha a mínima chance de estar salva e ir para o Céu. Eu sabia disso. Sabia que não poderia contemplar a face pura e santa de Jesus. Eu havia dado as costas para todos os princípios bíblicos que tinha aprendido não muito tempo antes. Estava deliberadamente transgredindo os mandamentos de Deus e tentando ignorar as profecias, achando que esse dia jamais chegaria. Troquei o convívio dos irmãos da igreja pelo dos “amigos” que só queriam “curtir” a vida. Deixei de buscar a santidade e a pureza de coração para dar rédea solta aos sentimentos e ao desejo de “aproveitar a vida”, como se essas coisas pudessem preencher o vazio e a sensação de inutilidade que cresciam em minha vida.

Na verdade, minha consciência nunca teve paz e, no fundo, eu gostaria de ser outra pessoa e não aquela que estava ali, na praia, fracassada diante das tentações e vaidades que o mundo oferece para uma jovem de dezesseis anos. Se antes o drama de um coração dividido já era intenso, naquele momento em que o mundo literalmente desabava a angústia se tornou mortal. Jesus voltou e eu me perdi. Perdi tudo! Perdi a chance de estar com meu Criador para sempre. Joguei fora a vida eterna e a felicidade completa. Perdi minha família... Estava tudo perdido! E pelo que troquei a salvação? Que prazer deste mundo compensou a perda?

Nunca consegui ser plenamente feliz. Nunca tive calma e paz. Nunca encontrei solução para a ansiedade e a angústia que me atormentavam. Onde andei buscando felicidade? Simplesmente vivi como se uma onda tivesse me apanhado e fosse me levando; e eu, sem tentar me levantar ou mesmo nadar contra aquele turbilhão de sentimentos, segui a “maré”.

Tudo foi fútil e desprezível. Agora percebia o quanto as coisas poderiam ter sido diferentes, se eu tivesse aceitado a salvação e vivido, pela graça, à altura da verdade que tive o privilégio de conhecer. Poderia ter sido nobre; poderia ter sido um instrumento para salvar outros – quem sabe minhas próprias amigas que agora estavam gritando desesperadas. Mas não. Escolhi ser apenas mais uma na multidão que tristemente se conformou com este mundo.

Todos esses pensamentos me passaram pela cabeça em poucos segundos e então me vi clamando por misericórdia, pedindo a Deus que, por favor, me desse apenas mais uma chance. O tempo passou rápido demais enquanto eu adiava meu retorno para Jesus. Eu sabia que agora era impossível voltar. Mas tinha que haver alguma maneira... O tempo tinha que voltar! Isso era tudo o que eu queria naquele momento: que o tempo voltasse. Se tivesse outra chance, faria tudo ser diferente. Finalmente, entendi que nada era mais importante do que estar com Jesus. Com certeza, se o tempo pudesse voltar, eu entregaria minha vida a Ele. Então, esse foi meu único e último pedido antes que Jesus aparecesse no céu e eu fosse destruída: “Faça o tempo voltar! Faça o tempo voltar!”

Fiquei repetindo esse pedido, quando finalmente acordei banhada em lágrimas. Estava de volta à minha vida vazia e sem sentido, mas aliviada porque ainda havia uma chance para mim. Parecia que o tempo realmente havia voltado. Mas, e agora? O que fazer? Como aproveitar essa oportunidade? Pedi a Jesus que me ajudasse a mudar porque eu realmente não tinha forças para voltar para a igreja e viver da maneira que eu julgava ser a adequada. Queria ser uma pessoa que eu não era e não via como poderia acontecer essa mudança. O drama do apóstolo Paulo se repetia ali, quase dois mil anos depois, em 1993: “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço” (Romanos 7:18, 19).

Deus é fiel e poderoso. Ele sabia da minha sinceridade em querer mudar, ainda que ninguém acreditasse mais em mim – nem eu mesma. Esse meu anseio era a oportunidade que Ele esperava para poder me ajudar. Eu não sabia o que fazer, nem como; mas achava que assim como Deus faria Sua parte eu deveria fazer a minha. Por isso, naquela manhã fui procurar o líder da igreja adventista do bairro em que eu morava (a Barra do Aririú, no município de Palhoça, SC) e pedi para ele novamente estudar a Bíblia comigo. Eu desejava que a chama do “primeiro amor” reacendesse em meu coração e que o milagre pelo qual eu orava finalmente acontecesse. Como o tempo havia voltado para mim, eu não perderia essa chance.

3 comentários:

Anónimo disse...

Oi Debora, passei por uma experiência parecida com a sua, estava levando uma vida morna na igreja, quando tive um pesadelo que me pareceu muito real. Vinha uma tempestade sobre minha casa e não tinha como escapar, a morte para mim era certa.Eu não estava pronta e fiquei apavorada.Deus me dispertou desse sonho e devo ter ficado uns 5 minutos sentada na cama tentando entender o que havia acontecido.Tento desde então estar em uma comunhão sincera com Deus e procuro estar me envolvendo na obra e causa do nosso Senhor e Salvador.

Lusimara Cristofoli
Brasil/São Paulo

Anónimo disse...

Isso me faz pensar em como cada um de nós é falho e por vzs acha q o mundo é atrativo,qndo o que ele oferece é finito diante do infinito de Deus!As vzs olho para algumas meninas da igreja que aos meus olhos nunca tiveram atrações pelo mundo,dai olho pra mim,q luto e oro para não cair em pecado e não voltar para o mundo,os braços de Jesus é o melhor lugar,mas as vzs temos tentações fortes,q há mt luta para vencer...parece q eu sou mais pecadora q essas meninas,talvez qm está entrando a recém na familia da fé pense assim,mais com essa leitura pude relembrar o poder transformador do espirito de Deus,que joga fora nossos erros e nos transforma numa nova pessoa nos dando forças contra o maligno,afinal cada tem suas tentações a vencer.ABraço!!

orelix disse...

também tive uma experiência similar à sua que me levou a reconciliação em 2003. Sei que vocês possuem um ponto de vista diferente, mas o que importa é o efeito e resultado final. Naquela madrugada eu ouvia uma rádio de Diadema que hoje não existe mais, mas que sempre anunciava a volta de Jesus, ouvia uma mensagem entitulada a Grande Tribulação, e entrei numa espécie de transe, ou acabei adormecendo, não me lembro direito, mas enquanto ouvia eu me via sofrendo com os que ficaram, e sofri muito, até que recobrei meus sentidos, e a voz da consciência disse-me suavemente que "para mim ainda havia esperança"...
Imediatamente dobrei os meus joelhos e me entreguei ao Salvador, e depois disso, me tornei um servo fiel.