quinta-feira, maio 18, 2006

Capítulo 7 - A decisão difícil

Michelson Borges

A experiência vivida naquela noite após assistir ao filme Ghost e o acidente com o carro do meu pai ainda estavam bem vívidos em minha memória. Havia compreendido claramente os “recados” de Deus para mim. Mas tomar a decisão definitiva não era fácil. Uma verdadeira luta estava sendo travada em meu coração.

Sentado nas escadas de pedra da Igreja Matriz São José, no centro de Criciúma, eu olhava para o céu estrelado de Verão – para minhas “velhas amigas” estrelas –, quando pedi a Deus um sinal: “Senhor, se devo realmente tomar essa decisão, faze com que a estrela para a qual estou olhando agora brilhe mais forte.” Dentro da igreja, minha mãe e irmãs assistiam à missa alheias ao dilema pelo qual eu passava.

Ajustei os óculos e continuei olhando fixamente para a luz bruxuleante do pequeno ponto luminoso no céu escuro. Aguardei alguns instantes pelo sinal e... nada. Abaixei a cabeça e me recriminei por tamanha ingenuidade. No fundo, sabia que não precisava de mais nenhum sinal. A Palavra de Deus, sua mensagem, é o maior sinal, a maior evidência que as pessoas podem ter, quando se permitem tocar por ela. Eu havia dedicado vários meses ao estudo de suas credenciais históricas e concluído que a Bíblia é realmente a Palavra de Deus, deixada entre os homens para guiá-los ao caminho certo, à vida eterna. Entendi que, uma vez que Deus existe e que Sua existência se explica também pela impossibilidade de, sem Ele, se poder explicar todas as outras coisas, e que se Deus é amor, como dizem as Escrituras, Ele certamente tomaria providências para Se comunicar com Seus filhos e deixar instruções registradas de forma perene. Quanto mais lia e estudava a Bíblia, mais ela se tornava preciosa para mim. Mais compreendia que ela é um Livro especial, capaz de mudar vidas e trazer esperança.

Eu estava consciente de tudo isso naquela noite. Sabia que de nada adiantava conhecer as profecias e a mensagem do Livro de Deus sem colocar a vida em conformidade com seus ensinamentos. Tinha plena convicção do que devia fazer e nunca havia tido tanta certeza em toda a minha vida. Mas quem disse que a mente e o coração andam na mesma direção?

Cada vez que pensava em tomar a decisão definitiva, um coquetel de sentimentos confusos me invadia o coração. De um lado, a certeza da verdade bíblica e do chamado de Cristo. Do outro, meus amigos, o envolvimento com os trabalhos nas pastorais, no grupo de jovens. O preço seria alto e eu sabia disso.

Tentei, em algumas ocasiões, mostrar aos meus companheiros de grupo de jovens as verdades que havia descoberto. Nas últimas três reuniões que dirigi como presidente do Gênesis abordei os assuntos da volta de Jesus, da mortalidade da alma e do sábado. Foi muito frustrante. Fui colocado na parede com argumentos para os quais não tinha respostas adequadas, na época. A volta de Jesus e o estado do homem na morte foram doutrinas até relativamente bem aceitas pelo grupo, com uma ou outra objeção. Mas quando tentei explicar o significado e a vigência do sétimo dia como dia de repouso, a coisa desandou de vez. Meus amigos preferiram ficar com a tradição católica em detrimento do claro testemunho das Escrituras, a despeito de todos os meus esforços para mostrar-lhes os fatos.

Meu amor por aquelas pessoas era (e é) tão profundo que me era inconcebível a ideia de guardar apenas para mim o que estava descobrindo na Bíblia. Aonde quer que eu fosse, carregava comigo minha Bíblia Edições Paulinas e a lia para algum amigo quando uma chance aparecia. Ficava muito feliz ao perceber que alguns deles apreciavam sinceramente essas conversas. Mas, para outros, essa minha atitude estava gerando desconforto uma vez que não havia respostas para minhas indagações.

A liderança do grupo de jovens chegou, então, à conclusão de que era necessário realizar um curso de aprofundamento bíblico na paróquia, a fim de solucionar as dúvidas e nos aprofundarmos na doutrina católica. Aquilo me deixou bastante contente, afinal, teria a chance de discutir minhas descobertas bíblicas. No entanto, o curso se revelou uma decepção para todos, uma vez que o professor, ex-seminarista, procurou racionalizar praticamente todos os milagres bíblicos, como a passagem dos hebreus pelo Mar Vermelho e outros eventos sobrenaturais. Por conta disso e por outros motivos, o curso foi encerrado. E nada de respostas.

O evento que determinou minha saída do grupo de jovens foi um sermão que apresentei numa celebração (missa sem o padre) no centro comunitário do bairro Lote 6. Era domingo de manhã. O salão estava lotado quando me levantei com a Bíblia na mão, as passagens anotadas e comecei a falar sobre a ressurreição de Lázaro e a esperança da vida eterna. Disse que esse milagre de Jesus é uma clara indicação de que os mortos estão dormindo na sepultura, aguardando inconscientes a volta de Jesus para, então, serem ressuscitados. Disse também que não seria justo Jesus chamar Lázaro do Céu, caso lá estivesse, apenas para demonstrar que Ele tem poder sobre a morte. Lázaro dormia no sepulcro, alheio ao que acontecia do lado de fora. E foi trazido novamente à vida por aquele que é o caminho, a verdade e a vida.

Achei estranho que alguns líderes comunitários e ministros da Eucaristia cochichassem durante o sermão e fizessem expressão de estranheza enquanto eu falava. Mas eu tinha plena certeza de que minhas palavras contavam com o claro “assim diz o Senhor”.

Um dia depois da celebração, a Cris, uma das minhas melhores amigas e que me sucedeu na presidência do Gênesis, me procurou e, com sua sinceridade característica, disse:

– Michelson, os pais do pessoal do grupo estão preocupados com a sua postura. Alguns estão dizendo até que se você continuar no grupo, eles vão tirar os filhos. Você precisa tomar uma decisão, meu amigo. Ou é católico ou é adventista. As duas coisas é que não dá.

Aquelas palavras foram cortantes e dolorosas. Estava recebendo um “convite” para deixar algo que me era muito caro. Até aquele momento eu não havia cogitado a ideia de abandonar o grupo de jovens e minhas atividades na Igreja Católica. Mas a Cris tinha razão. Eu precisava decidir.

Já havia participado de discussões com líderes da igreja, com amigos padres que me indicaram alguma literatura, mas nada nem ninguém conseguia me convencer de que o resultado de minhas pesquisas bíblicas estava certo. Admito que até poderia parecer teimosia e arrogância de minha parte, mas o que me movia era o sincero desejo de fazer a vontade de Deus, aonde quer que ela me levasse. Sem querer, a Cris acabou colaborando para a dura tomada de decisão que eu precisava tomar.

Sentado na escada na Igreja Matriz, todos esses pensamentos me vieram à mente enquanto ouvia à distância a voz do padre pregando sobre a mudança do sábado para o domingo!

Comecei a pensar, também, no tempo em que o Vanderlei me visitava quase todas as sextas-feiras à noite para estudarmos a Bíblia. Foram vários meses de estudos. Chovesse ou não, lá estava meu amigo com sua bicicleta velha e uma mochila surrada, contendo a Bíblia e outros livros. Aquilo me deixava profundamente impressionado, especialmente nas noites frias de Inverno. Frequentemente nossos estudos iam até altas horas da madrugada e eu ficava com pena dele, imaginando o frio que devia sentir ao transpor os seis ou sete quilômetros entre nossas casas.

Aqueles eram momentos muito solenes para mim. Depois de orar, estudávamos por horas assuntos diversos da Bíblia. Mas, quando chegava o momento do apelo, eu sempre me sentia desconfortável:

– Michelson, está na hora de você tomar uma decisão. Eu sei que não é fácil contrariar família e amigos para seguir Jesus. Eu mesmo tive que fazer isso anos atrás. Você já conhece a verdade, por que vive com o coração dividido?

Coração dividido. Aquelas palavras eram a radiografia do meu caso. Cada vez que sentia o chamado do Espírito Santo, algo dentro de mim parecia estar sendo rasgado ao meio. Meus amigos compreenderiam minha escolha? O que os líderes da igreja iriam pensar de mim? “O Michelson deixou que lhe fizessem lavagem cerebral”, certamente alguns diriam. Eu mesmo havia dito isso no passado quando soube que algum conhecido se tornou “crente”. Agora minha vaidade falava alto. Tomar a cruz e seguir Jesus parecia um fardo pesado demais.

Além da luta com Satanás, naquela noite depois do cinema, e do acidente de carro, Deus ainda me falaria por meio de mais três sinais muito claros. Dois deles ocorreram justamente nas duas últimas missas de que participei, em 1991. Na penúltima, o tema do sermão do padre fora sobre a assunção de Nossa Senhora. Esse havia sido um dos primeiros temas que tentei provar pela Bíblia ao Vanderlei, ficando muito frustrado ao descobrir que, na verdade, as Escrituras nada dizem quanto à assunção ou mesmo sobre a “imaculada conceição” de Maria. Eu amava Maria (e nunca deixei de respeitá-la como exemplo cristão), mas entendi que esse assunto era um dogma católico e que a assunção fora declarada pelo papa Pio XII, em 1950. Tê la como intercessora no Céu não é correto, pois a Bíblia afirma que “há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, um Homem, Cristo Jesus” (1 Timóteo 2:5, Bíblia de Jerusalém). E Deus não permite adoração a outro ser (cf. Mateus 4:10 e Isaías 42:8).

Naquela noite, ao chegar em casa, fiz uma pesquisa em minha coleção de folhetos “O Domingo” (espécie de roteiro da missa), e encontrei o seguinte: “Pelo dogma da Assunção, afirmamos que Maria já está definitivamente glorificada na totalidade de seu ser humano e feminino. A continuidade do seu corpo terreno, agora glorioso, não deve nos fazer esquecer a transformação radical que lhe acarretou a ressurreição dos mortos” (Aleixo M. Autran, “O Domingo”, n° 39, 14/8/88).

O problema é que Maria passou a ser considerada a mãe de Deus, mediadora entre Jesus e a humanidade. Deus, o Pai, passou a ser encarado como tendo um caráter vingativo, que precisava ser acalmado. Jesus, embora habilitado para fazer isso, poderia ser ajudado ou influenciado por Sua mãe. Assim, há quem ore primeiro para Maria, para que ela leve as orações até Jesus. Isso resultou de um conceito errado do caráter e personalidade de Deus, o Pai. Jesus Se tornou uma espécie de personagem passivo e o verdadeiro poder de interceder passou para os sacerdotes e para Maria. Descobri que na teologia católica Maria quase se torna um ser semidivino. Sendo Jesus o “segundo Adão”, Maria é encarada como a “segunda Eva”. O tema daquela missa causou-me grande desconforto.

No domingo seguinte, o padre apresentou sermão sobre o domingo como dia de guarda, e aquilo agora parecia ser uma espécie de “provocação pessoal”. Depois de ter estudado profundamente a Bíblia e descoberto que o sábado é o único e verdadeiro dia de repouso e que o domingo faz parte da tradição romana, como podia permanecer ali como se estivesse concordando com tudo? Foi quando saí da igreja e me assentei na escadaria, lá fora. Mas ainda viria o terceiro “recado” divino.

Certa vez, o Vanderlei me convidou para fazermos uma pesquisa num bairro de Criciúma, com vistas a conseguir interessados num estudo bíblico. O lugar era distante de minha casa e era necessário subir um morro alto, o que tornava a caminhada bastante cansativa. Mesmo ainda não sendo membro da Igreja Adventista, eu gostava de participar dessas atividades missionárias, por isso aceitei o convite.

Pegamos nossas pranchetas com as folhas e iniciamos a subida. Era Verão e chegamos ao local encharcados de suor. Começamos pela primeira casa da primeira rua do loteamento. Nossa missão consistia em chamar os moradores e fazer-lhes algumas perguntas relacionadas com eventos atuais e a importância de se conhecer a Palavra de Deus. Depois oferecíamos estudos bíblicos gratuitos que nós mesmos iríamos ministrar. Horas depois, havíamos visitado dezenas de casas, mas ninguém havia demonstrado interesse nos estudos.

Exaustos e sedentos, já no fim da tarde, o Vanderlei e eu nos sentamos numa pedra à beira da estrada. Colocamos as pranchetas de lado e permanecemos em silêncio por alguns instantes. Eu não conseguia compreender o que havia dado errado, uma vez que o Vanderlei tinha dito que aquele era um bom método para se conseguir estudar a Bíblia com as pessoas, usado há muito tempo pelos adventistas.

– O que será que deu errado? – perguntei, quebrando o silêncio. – Fizemos tudo como você disse que devíamos fazer.

O Vanderlei esperou alguns segundos antes de responder, como que calculando bem o efeito das palavras:

– O que você acha? Será que Deus pode abençoar os esforços de um servo que não faz o que quer ensinar aos outros?

Aquela pergunta havia sido tão penetrante que por um instante cheguei a esquecer o cansaço. Ele tinha toda razão. Eu estava sendo hipócrita. Como podia dar estudos bíblicos e ensinar temas como o sábado, por exemplo, se eu mesmo ainda não guardava o sábado conforme o mandamento?

Eu havia entendido mais aquele “recado” do Céu. Precisava me decidir logo e dar fim àqueles dois anos e meio de luta com Deus.

Na manhã seguinte, minha mãe me despertou cedo para eu ir à escola resolver um assunto do estágio do curso de Química. Notei que ela estava estranha, com o rosto fechado. Sentamo-nos à mesa para o desjejum e perguntei:

– O que houve, mãe?

– O que houve?! – ela fuzilou, como se eu já tivesse que saber a resposta. E prosseguiu:

– Sempre sonhei que você fosse se tornar padre, e agora me vem com essa história de ser “crente”?

Percebi que a conversa não seria fácil. Durante meses, sempre que esse assunto vinha à tona, era a mesma coisa e minha mãe acabava aos prantos.

– Acho que vou proibir aquele galego [ela se referia ao Vanderlei] de vir aqui em casa. Não queria chegar a esse extremo, mas vocês me obrigam. Ele está fazendo a tua cabeça.

– Mãe, o que é isso?! Parece que não me conhece! Ele não tá “fazendo a minha cabeça”. Relutei muito tempo em aceitar que ele viesse estudar a Bíblia comigo. Só aceitei isso depois de conferir por mim mesmo se o que os adventistas ensinam faz sentido ou não. E quer saber? Nunca vi uma mensagem tão coerente com a Bíblia.

Eu sabia o que estava dizendo. Nos dois anos anteriores me pus a pesquisar com afinco a crença de diversas religiões cristãs. Afinal, como podia ter certeza de que a Igreja Adventista segue mais de perto as Escrituras?

– Mas por que esse rapaz foi pegar logo no teu pé?

– Mãe, ele é meu amigo e sei que o interesse dele é sincero. Além do mais, a Bíblia nos diz para pregar o evangelho a todas as pessoas, indistintamente.

– Mas a Igreja Católica não tem o evangelho?

– Sim e há muitas pessoas sinceras nela. Mas a senhora há de convir que nunca estudamos a Bíblia. Portanto, como saber a vontade de Deus? Eu descobri que há muita coisa que nós não praticamos e que estão na Bíblia. Tenho tentado mostrar isso aos meus amigos e à senhora há vários meses, mas vocês não querem me escutar...

– Está bem. Eu quero saber.

Ela me deixou sem reação. Fazia tempo que eu estava orando por isso, mas não sabia que a resposta às minhas orações viria assim, de forma tão inesperada.

– Quer mesmo, mãe?

– Quero. Mas quero que você me mostre.

Aquele foi um dia muito feliz para mim. Não saí de casa com os olhos rasos d’água, como frequentemente acontecia depois dessas discussões. Saí com um sorriso no rosto e uma prece silenciosa de gratidão a Deus.

Nos meses seguintes, estudei a Bíblia com minha mãe e minha irmã mais nova, a Emanuela, que na época era muito nova e me deixava em dúvida sobre se compreendia ou não o que estudávamos. O estudo serviu para reforçar minhas convicções e para mostrar à minha mãe que o “galego” tinha razão. O tema que mais a encheu de esperança foi o da ressurreição.


Todos têm um sonho especial que será realizado por ocasião da volta de Cristo à Terra. Alguns aguardam o reencontro com o cônjuge falecido. Outros desejam rever o pai ou a mãe que havia descansam no pó da terra. De minha parte, a cena que mais me emociona, depois de contemplar o rosto glorioso do Salvador, é o reencontro da minha mãe com meu irmãozinho falecido aos oito meses de vida, o Marcelo.

Não o conheci, pois eu ainda não havia nascido. O Marcelo seria mais velho que eu, no entanto, será mais novo no Céu. Muitas vezes me pego imaginando o momento em que o anjo protetor do meu irmãozinho que hoje lhe guarda a sepultura o colocará nos braços da minha mãe. Atrás da cena, Jesus sorrirá satisfeito com ar de cumplicidade, como que a dizer: “Eu não falei que logo vocês tornariam a se encontrar? Que logo toda dor e saudade teriam fim?”

À medida que o tempo passar, a bordo da Nova Jerusalém, em nossa viagem de mil anos, meu irmão vai crescer sem ter ideia do mundo em que não viveu. Junto conosco, o pequeno Marcelo conhecerá pessoas fantásticas como Moisés, Daniel, Paulo e Ellen White. Ouvirá histórias fascinantes que fizeram parte do drama chamado Grande Conflito. Para ele tudo parecerá um sonho, como para nós o Céu às vezes parecia.

Imagino que num certo sábado, quando todos nos reunirmos diante do trono de Deus para nosso momento especial de adoração, o Marcelo observará com maior atenção as mãos e os pés de Jesus, que estará assentado à direita do Pai. Imagino meu irmãozinho olhando para mim e perguntando: “Que feridas são [aquelas] nas [mãos dEle]?” (Zacarias 13:6). Prometo dar-lhe a resposta após o culto.

Sentados debaixo de um lindo salgueiro (escolhi o salgueiro porque foi a primeira árvore que plantei na vida), vou narrar para o Marcelo, com os olhinhos brilhando de vivo interesse, a história do amor de um Deus que entregou a própria vida para que pudéssemos estar ali reunidos naquela cidade maravilhosa que logo descerá sobre o planeta Terra. Restaurado, este planeta será nosso novo e eterno lar. Direi a ele que aquelas feridas garantiram sua ressurreição e a transformação dos remidos em criaturas imortais. Feridas de amor. Feridas de salvação.

Na verdade, creio que teremos o privilégio de testemunhar a muitas pessoas sinceras que não tiveram chance de conhecer a Cristo, mas que foram fiéis à luz que obtiveram. Teremos nos lábios o cântico de Moisés. O cântico de nossa experiência singular para a qual atentarão os próprios habitantes dos mundos não caídos, com seus milênios de vida e conhecimento. Seremos um povo especial, resgatados pelo Cordeiro de Deus e conhecedores, na prática, do significado do que é viver pela fé. A ovelha perdida que se extraviou e provou, como nenhuma outra, o amor incontestável e infinito do Bom Pastor.

Testemunhas para sempre é o que seremos. Monumentos vivos a vindicar a justiça de Deus no trato com os seres por Ele criados. Glorificaremos e exaltaremos o nome de nosso Senhor por toda a eternidade.

Minha mãe e eu entendemos que nossa missão deve iniciar aqui e agora, pois nos compete levar para o lar eterno o maior número de pessoas deste mundo suicida. O que distinguirá os 144 mil, aquele povo especial resgatado por Cristo, é o fato de andarem com o Cordeiro por onde quer que Ele vá (cf. Apocalipse 14:4). Mas essa característica não será adquirida no Céu. Muito pelo contrário. Devemos andar com o Cordeiro aqui. E ao fazê-lo será impossível não falar de Seu nome e Seu poder às pessoas que nos rodeiam. No Céu, falaremos do poder que nos tornou dignos de lá estar. Aqui, devemos falar do poder que nos vivifica em Cristo Jesus.

A maior motivação que minha mãe e eu encontramos para mudar de vida e falar de Jesus a quantos pudermos foi ler o que a escritora inspirada Ellen White escreveu em seu livro O Desejado de Todas as Nações: “Dando o evangelho ao mundo, está em nosso poder apressar a volta de Cristo. Não nos cabe apenas aguardar, mas apressar o dia de Deus.”

Com o tempo, minha mãe acabou aceitando as doutrinas adventistas e me apoiando naquilo que antes condenava. Começamos a frequentar juntos a Igreja Adventista Central de Criciúma, a despeito da oposição de parentes e amigos.

Certa noite de quarta-feira, após o culto de oração, o Vanderlei me convidou para ficar um pouco mais na igreja. Estava hospedado lá um evangelista muito consagrado a Deus, o irmão Nevani, que nos convidou para orar juntos. Nos ajoelhamos na nave vazia da igreja e ele orou. Suas palavras ecoaram pelo templo e penetraram profundamente em meu coração. Ali, com lágrimas descendo pelo rosto, entreguei minha vida completamente a Deus, decidi ser fiel a Seus mandamentos e pedi para ser batizado.

Nessa época – meados do segundo semestre de 1991 –, eu estava me preparando para o vestibular, o que também me fez relutar em santificar o sábado. Pensava: “Se meu pai descobrir que faltarei todas as sextas-feiras à noite e sábados do meu curso pré-vestibular, ele não vai aceitar.” Era ele quem pagava o curso, e não era pouco.

Depois daquela experiência missionária frustrada com o Vanderlei, deixei a questão sob os cuidados de Deus. Mas naquela semana, após minha decisão, as coisas pioraram. As matérias nas quais sempre tive maior dificuldade – Matemática e Física – foram transferidas justamente para sexta-feira à noite. Além disso, havia as aulas de sábado à tarde (inglês, por exemplo, era só nesse dia). Não assisti mais às aulas das matérias mencionadas, embora fizesse minha parte: estudava em casa.

O dia do vestibular se aproximava e eu sabia que havia colegas mais bem preparados que eu para disputar as quarenta vagas do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis. Mas eu tinha certeza de que Deus cuidava de tudo.

No dia 28 de dezembro de 1991, fui batizado na Igreja Adventista Central de Criciúma, e, algumas semanas depois, recebi a boa notícia: havia sido aprovado – apenas eu e outra garota do pré-vestibular – para o curso de Jornalismo da UFSC. Mas o mais interessante foi o fato de minha nota na prova de Matemática ter sido tão boa quanto à das demais matérias.

Um ano depois, minha mãe e irmã mais nova também foram batizadas. A decisão não havia sido fácil, mas valeu a pena. Nunca nos arrependemos disso.


4 comentários:

Anónimo disse...

Estou passando pelo mesmo problema ,mas eu tenho fé em Cristo que tudo vai dar certo a sim como deu para vc.

Clacir Virmes disse...

Michaelson, li parte de tua história e fiquei emocionado em alguns momentos. Um deles o seu batismo. Você não menciona o nome do Pr. que te batizou, mas eu gostaria muito de saber, ja que se parece muito com grande amigo meu.
Um abraço.

Criacionismo disse...

Olá, Clacir.
O nome dele é José Miranda.

Debora disse...

olá Michelson! Meu nome é Débora e ouvi uma pregação sua na Igreja central de Curitiba. Seu blog é mesmo uma benção, e também é muito edificante ler a história de como Deus agiu em sua vida. Passei por uma experiência parecida com relação ao vestibular, e Deus me honrou muito mais do q eu imaginava, dando-me uma vaga na UFPR em uma colocação muito boa!

Agora estou no terceiro período do curso de eng. Ambiental, e o Senhor tem derramado mts bençãos sobre mim. Seus posts nos encorajam ainda mais a dividir com outros as maravilhosas do nosso Deus. Q ele sempre te abençoe!